Pais e filhos

À Comissão de Educação da Assembleia, pais revelam dificuldade na inclusão de autistas

“A vontade que nós temos é de pegar nossas coisas e ir embora do país”. “Não quero mais levar o meu filho (à escola), eu estou a ponto de explodir”. “Os nossos filhos ficam jogados na escola, estão à base de migalhas”. “Os professores não chegam perto do meu filho, como se ele tivesse uma doença infectocontagiosa”. 

Esses foram alguns relatos de mães e pais de crianças autistas da Grande Vitória que participaram de reunião da Comissão de Educação desta segunda-feira (18). O encontro foi realizado para colher as dificuldades na inclusão dos estudantes autistas tanto na rede pública quanto na rede privada de ensino. 

Fotos da reunião

Uma das pessoas que discursaram foi a pedagoga Bárbara Campos, que tem dois filhos autistas de 9 anos de idade. A mãe de gêmeos e ativista da causa revelou a sobrecarga de três escolas particulares de Vitória que, segundo ela, são as únicas da rede privada que realmente realizam a inclusão das crianças e adolescentes com o Transtorno do Espectro Autista (TEA). 

Ela, que convive com outras mães e pais de crianças com essa condição, comentou que há inúmeros adolescentes que não estão alfabetizados nem conseguem realizar cálculos básicos. Além disso, os alunos ficam excluídos. “Receber o autista na escola todo mundo pode receber. Agora, largar aquele autista no pátio da escola ou no canto da sala, não pode”, declarou. 

É o que tem passado a mãe Solange Scatolin. Ela contou que a filha sofreu agressão física dentro da sala de aula de uma escola privada. Ela tirou a menina da escola, mas teve dificuldade em encontrar outro colégio particular que aceitasse matricular sua filha. “As escolas aqui em Vitória estão negando matrícula aos nossos filhos, estão fechando a porta na cara dos pais”, disse. 

“Nossos filhos estão à base de migalhas. Não queremos privilégios, queremos o que as crianças neurotípicas têm direito”, frisou. Atualmente, a menina está no 9º ano em uma escola da rede municipal de Vitória. 

Escola municipal da Serra 

Muito emocionado, o comerciante Rogério Rodrigues, pai de um menino autista de 11 anos, contou que o filho ainda não foi devidamente alfabetizado. “Eu tenho um filho de 11 anos, está na 6ª série, não sabe ler nem escrever, está indo para a escola e voltando com o caderno em branco”, revelou. “Não quero mais levar o meu filho, eu estou a ponto de explodir”, disse.  

O menino estuda em uma escola municipal no bairro Jardim Limoeiro, na Serra. A mãe de outra criança que estuda na mesma escola, Priscila Reis, também falou da sua experiência negativa. Segundo ela, o filho vem sofrendo bullying. “Desde quarta-feira que ele não dorme. Teve que voltar com as medicações. Ele foi hoje todo apreensivo, está muito inseguro (…). Os professores não chegam perto dele, como se ele tivesse uma doença infectocontagiosa”, contou. 

Alta demanda

De acordo com a dirigente do Centro de Apoio Operacional de Implementação das Políticas de Educação (Caope) do Ministério Público Estadual, procuradora Maria Cristina Rocha Pimentel, o número de matrículas na educação especial saltou de 25,9 mil, em 2018, para 42,8 mil, em 2023, um aumento de mais de 65%. Os números correspondem a 5% de todas as matrículas da educação básica e são referentes às redes pública e particular de todo o estado. 

O perfil mais comum do estudante da educação especial é: menino (70%) de até 14 anos (76.5%) do ensino fundamental (64%) da rede municipal de ensino (68%) com deficiência intelectual (53%) ou TEA (44%). 

Uma das necessidades mais evidentes, segundo ela, é a contratação de profissionais de apoio (cuidadores) antes do início das aulas. “O profissional especializado precisa estar no início do ano letivo. (As escolas) esperam a criança estar na rede para depois realizar a contratação”, pontuou. 

Ela frisou a importância de os pais denunciarem os casos ao Ministério Público por meio da Ouvidoria (https://ouvidoria.mpes.mp.br/ ). 

Rede estadual 

A gerente de educação especial da Secretaria de Estado da Educação (Sedu), Giovanne Berger, apresentou dados referentes à rede estadual. São aproximadamente 12 mil estudantes da educação especial, sendo cerca de 8 mil com deficiência intelectual, 3 mil com TEA , além de estudantes com outros tipos de deficiência. 

Segundo a gestora, a Sedu tem elaborado documentos orientadores e realizado formações e monitoramento das escolas. Atualmente, são 1,8 mil professores especializados e 1,3 mil profissionais de apoio escolar (cuidadores). 

“Estamos fazendo todos os movimentos possíveis (…). Tem muita escola da rede estadual fazendo muito bem feito. Tem muita escola que realmente é inclusiva. Mas temos, sim, escolas que precisam um olhar mais apurado”, comentou. 

Encaminhamentos 

Ao final do encontrou, a Comissão de Educação fez alguns encaminhamentos. Por sugestão do presidente, Dary Pagung (PSB), o colegiado oficiará a Sedu, as secretarias municipais e a rede de escolas particulares sobre os seus planos de ação para inclusão de alunos autistas. 

O vice-presidente, Gandini (PSD), sugeriu a criação de um canal de diálogo permanente da comissão com os setores envolvidos no tema. Ele também propôs uma visita à escola municipal localizada em Jardim Limoeiro, na Serra, e que foi citada pelos pais. 

Outra sugestão foi que os pais de alunos da rede pública tivessem como fazer uma avaliação das escolas em que seus filhos estudam e que essas avaliações sejam levadas em consideração pelas secretarias estadual e municipais de Educação. Gandini também propôs a redução de impostos para escolas particulares que incluam os estudantes autistas. 

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