Por – Ilauro Oliveira
Não ir a debates definitivamente não é uma boa estratégia para quem quer se eleger. Ao contrário, pode ser um tiro no pé. E no caso do candidato Theodorico Ferraço (PP), vou além: pode ter sido um erro fatal, dada a circunstância em que está disputando esta eleição em Cachoeiro. A foto com o lugar dele vazio vai rodar a semana e chegar no eleitorado.
Para início, vamos à circunstância. Esta eleição está sendo atípica para Ferraço, que perto de fazer 87 anos já não consegue ir a todos os recantos de Cachoeiro. E essa dificuldade, que é normal pela idade em que está, tira ele das ruas, obrigando-o a fazer o que o atacante Romário gostava: jogar parado, e resolver o jogo em momentos cruciais. Então, se ausentar das oportunidades de “jogar parado”, me causa estranheza.
Ao político que lidera a corrida eleitoral é dado o direito de se ausentar de debates que podem lhe desgastar. Aí compensam essas ausências com outras estratégias, tipo aumentar a presença nas ruas, explorar exaustivamente os programas de rádio e TV, e, agora, usar muito as tais redes sociais. E por fim, ir a um ou outro debate pontual, sem ser expor demais.
Ferraço teve a chance de usar a tal “bala de prata” no debate de ontem, sábado (28), na TV Gazeta. Era a hora de mostrar para os adversários, e principalmente para os seus eleitores, que podem até acusá-lo de estar “doente do pé”, mas não poderão dizer que está “ruim da cabeça”. Ia provar isso jogando parado, e uma única vez. Não haverá mais debates. Era só aquele. O último e ele não foi. Perdeu chance de ouro, sem “bala de prata”.
Resistindo aos ataques que sofreria com a esperteza que só as pessoas mais maduras podem ter, Ferraço sairia maior do que está. Provaria que pode sim ser prefeito de novo, porque ainda tem lenha para queimar, apesar do peso do tempo. Mas quando não vai a um debate tão importante, levanta contra si as dúvidas naturais da população. Algumas delas podem ser:
A – Não foi porque está usando o salto alto do já ganhou?
B – Tem pouco apreço à democracia?
C – As ideias para melhorar Cachoeiro são frágeis e inconsistentes, por isso foi incapaz de defendê-las publicamente?
D – Tem condições de defendê-las publicamente?
Nesta eleição, não pesa contra Ferraço o fator idade, pouco explorado pelos seus adversários. O que mais criticam no candidato é o fato de que ele teria ideias velhas para problemas novos, e que seu estilo de governar não resistiria ao emaranhado de exigências do sistema administrativo que hoje se aplica no serviço público. Em suma, estaria ultrapassado.
Enfim, são retóricas políticas de adversários, cuja realidade só poderá ser comprovada caso ele realmente exerça o poder. E é exatamente por isso que me estranha muito a ausência de Ferraço no debate, porque ali estaria a chance dele provar o contrário, defendendo as ideias do seu modelo gestor.
Certa feita o lendário Ulisses Guimarães teria sido chamado de velho pelo então candidato Fernando Collor de Melo. De bate pronto o emedebista respondeu: “Sou velho, mas não veiaco. Morreu aos 76 anos honrando a sua história na política brasileira.
Ferraço, dez anos mais velho, também honra sua história na política do Espírito Santo. Mas quando falta a um debate e deixa de falar ao povo aquilo que realmente pensa sobre os problemas de Cachoeiro e como irá resolvê-los, deixa desnecessariamente a dúvida cruel se realmente será capaz de resolvê-los. Parodiando Ulisses, poderia dizer “estou velho, mas estou pronto para servir Cachoeiro”. Não disse, na sua melhor chance de dizer.
Embora os ferracistas e uma meia dúzia de poderosos de Cachoeiro teimem em dizer que a eleição acabou, ainda faltam 7 dias, a partir deste domingo (29). Ironicamente, a participação de Ferraço no debate, que seria a “bala de prata” mortal contra seus adversários, não aconteceu, e torna-se agora o fato novo desta eleição, podendo mudar o rumo daquilo que era para estar praticamente consolidado na manhã deste domingo.
Estratégia ousada, resultado imprognosticável. Ao não debater os problemas de Cachoeiro contra seus adversários, Ferraço turbina a campanha dos seus concorrentes e bota sua eleição em risco. Em uma semana saberemos se deu certo. Por hora, melhor não cantar vitória.
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“Não cante vitória muito cedo, não/ Nem leve flores para a cova do inimigo/ Que as lágrimas do jovem são fortes como um segredo/ Podem fazer renascer um mal antigo” – Não Leve Flores (Belchior)