Sábado, 29/07/2023, à tarde, fui ao 25° Festival da Sanfona e Viola no Sítio Histórico de São Pedro do Itabapoana, Mimoso do Sul/ES.
Levei o casal de amigos mineiros, Vander e Helaine, mais o filho Artur, para conhecer a tradicional Festa. Uma chegada nada receptiva.
Pisando sobre as históricas pedras Pé de Moleque, um dos itens que fundamentou o tombamento daquele Sítio Histórico, sem conhecimento e respeito ao Festival da Sanfona e Viola, pessoas desatentas e desordeiras, em frente a um descabido, intruso e afrontoso palco do Rock da Tarde, numa festa que deveria ser só da Sanfona e Viola, atrapalhavam a passagem dos visitantes desejosos de subir a rua e ir até à praça histórica, participar do Festival.
Fiquei constrangido, envergonhado e inconformado. Da alegria por ter convidado os queridos amigos-visitantes para conhecer a tradicional festa, a decepção veio com um sabor amargo, logo na entrada ao deparamos com uma baderna. Lamentável.
Lixarada pelo chão, caixas com som alto, carregadas por pessoas, carro com bagageiro aberto, tocando músicas, incoerentes e desrespeitosas com o Festival e os visitantes. Ou seja, uma bagunça concebida e institucionalizada. Coniventes, parte da comunidade acovardada não se manifesta. E os irresponsáveis órgãos públicos, municipal e estadual, patrocinam, com verba pública, a desvalorização, ou até mesmo o eminente fim, de uma festa que se pretendia cultural, preservando as tradições do Festival.
A modernidade consumista, descartável e insensível, se apoderou da Festa da Sanfona e Viola de São Pedro do Itabapoana.
E não é exagero afirmar que os seus tentáculos se estenderam sobre este Patrimônio Histórico, último bastião dos nossos costumes, banindo com os nossos sagrados sentimentos por uma cultura raiz.
Pioneiras, companheiras e irmãs inseparáveis, Sanfona e Viola me confidenciaram com tristeza que se sentem afrontadas. Por isso, nessa hora dolorosa, recorro suplicante ao Órgão Supremo, rogando a intercessão de São Pedro de Alcântara: Não permitas, querido padroeiro, que Sanfona e Viola, patrimônios da arte, por ti abençoadas e elevadas aos altares, por falta de amor e zelo, morram desrespeitadas e desamparadas. Amém.
* Marcelo Melo é cronista e escritor
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