O grande terror do candidato Theodorico Ferraço (PP) nas urnas chama-se migração de votos que advém da polarização. Em Cachoeiro, esse fenômeno eleitoral foi decisivo em 2008 para que Carlos Casteglione (PT) se tornasse prefeito com incríveis 49.698 votos.
Naquele pleito, Casteglione sepultou politicamente dois grandes gigantes cachoeirenses: Roberto Valadão, que já partiu para o andar de cima, e o mesmo Ferraço de agora. A diferença do vencedor para o segundo foi em torno de 7 mil votos, mas só aconteceu na reta final.
Deu-se da seguinte forma. Desgastado no poder, o então prefeito Valadão partiu em busca da reeleição, mas debilitado politicamente. Lutou, como era do seu costume, mas viu, nos dias finais daquela disputa, seus votos, que já eram poucos, migrarem para o petista. Era o que faltava para a virada histórica. De apoio de lideranças , Casteglione tinha apenas o senador Magno Malta (PL) naquele ano. Ele foi importante, mas não decisivo.
Pesaram dois fenômenos: a volatilidade da base política de Valadão, ancorada no velho conceito de um governo de coalizão; e o medo dos servidores públicos municipais de terem Ferraço novamente no poder. Nas últimas semanas, tanto a base frágil valadonista, formada por PV, PTB, PRP, PT do B, PTN e PSDC, quanto os servidores, que apesar dos pesares tinham uma relação razoável com então prefeito, lhe deixaram de lado e votaram em Casteglione.
Agora, em 2024, Ferraço lidera a disputa, segundo pesquisas confiáveis ou não. O governo Victor Coelho (PSB) tem uma candidata, Lorena Vasques (PSB), que, segundo esses mesmos números divulgados, patina na intenção de votos. Sobram Diego Libardi (Republicanos), Léo Camargo (PL) e o mesmo Carlos Casteglione (PT). Quem se aproximar do líder pode se beneficiar do fenômeno que ajudou o petista lá atrás. Desses, o único que talvez não consiga isso é exatamente o beneficiado de 2008, por conta da alta rejeição atual. Os outros dois têm mais chances.
Nenhuma eleição é igual a outra, mas uma boa estratégia para quem polarizar com Ferraço é pregar o chamado voto útil, fazendo a tão temida migração de votos dos demais candidatos para si. Historicamente os ferracistas não têm o voto do servidor efetivo, cerca de 2500. E partidos, que hoje apoiam este ou aquele candidato, tendem a seguir quem pode ganhar a eleição, sonhando com o tal governo de coalizão. A tradição ferracista é governar sem dividir poder, o que pode dificultar uma possível aglutinação partidária.
Portanto, a polarização é fenômeno temido por Ferraço. Porque a tal migração de votos, muito comum em cidades que têm segundo turno, em Cachoeiro acontece já no primeiro turno. E curiosamente ocorre em desfavor de quem lidera, pois o fôlego vai se definhando ao longo do processo, enquanto quem se aproxima ganha ímpeto, alimentado pela esperança de uma virada na reta final.
Cabe ao líder, neste caso Ferraço, criar antídoto à migração, que já lhe foi fatal e pode se repetir. Aos demais pretendentes ao cargo de prefeito de Cachoeiro cabem buscar a polarização. Quem antes fizer, mais cedo poderá beber das benesses dela.
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“A rosa não se compara/ a essa judia rara/ criada no meu país” – Judia Rara (Jorge Faraj/Moreira da Silva)