Câmara Federal, um caminho difícil para Victor Coelho

Inicialmente cotado para disputar uma vaga na Câmara Federal, sendo inclusive uma das fortes apostas do seu partido, o PSB, Victor Coelho deve enfrentar resistência entre aliados que já consideram o projeto dificílimo para o ex-prefeito de Cachoeiro de Itapemirim. Os motivos são vários. O primeiro é o saldo eleitoral de 2024. O fraco desempenho da candidata Lorena Vasques (PSB), mesmo com a força da máquina administrativa, é o primeiro sinal de alerta. Apesar de o Victor ser o Victor, eleito e reeleito com folgas, a fotografia final do seu governo não foi boa, sobretudo o desgaste com a não conclusão da macrodrenagem. Isso atrapalhou muito ela e vai atrapalhá-lo também. Outro fator que vem sendo avaliado no meio político é o esfacelamento do grupo de vereadores que foi eleito nas asas do projeto socialista. Dos 11 eleitos que compuseram a tríade PSB, PDT e PSDB, uma conta simples atualmente mostra que caso Victor se aventure à Câmara Federal, hoje nenhum desses estaria com ele. Mas, se focar na Assembleia, pode reagrupar parte. Soma-se ainda a esses dois raciocínios iniciais a possibilidade de um embate ainda maior entre o grupo ferracista, que hoje governa Cachoeiro, com o grupo socialista. O clima nos bastidores não é bom desde o primeiro dia de governo do prefeito Ferraço (PP) e a aposta é que irá piorar nos próximos dias. Isso pode gerar desgaste a Victor. Vem tempo ruim aí, disse um marinheiro da política cachoeirense.    Para finalizar, existem as pré-candidaturas socialistas de Thiago Hoffman e Emanuela Pedroso, secretários estaduais de Saúde e Governo, respectivamente. Ambas vê comendo pelas beiradas os redutos do PSB na região Sul e isso atingirá em cheio Victor Coelho, caso ele insista em disputar a Câmara Federal. O ideal, avalia-se, é que o ex-prefeito associe-se a um desses nomes (ou aos dois) onde for possível, formando assim uma dobradinha e desça para deputado estadual. Em tese, seria um caminho mais fácil para que adquira um mandato futuramente e se fortaleça para disputar a prefeitura de Cachoeiro em 2028. O que é certo no bastidor é que aquela ideia inicial de uma dobradinha Victor e Lorena, para Câmara e Assembleia, ou vice-versa, não tem a menor razão de ser, e seria suicídio eleitoral para o ex-prefeito e atual secretário estadual de Turismo. ************************************************** Está cada dia pior o clima político em Marataízes. O grupo do atual prefeito Toninho Bitencourt (Podemos) e do ex-prefeito Tininho Batista (PSB) prometem grandes enfrentamentos de agora em diante. A semana iniciou com uma entrevista do ex-prefeito onde não economizou críticas a atual gestão. A bronca maior dele é saber sobre as dívidas que deixou, ou teria deixado, no montante de R$ 150 milhões, segundo números da nova administração. O caso está na justiça. E no pedido, Tininho pergunta o nome dos fornecedores e os valores devidos a cada um. Ainda não foi respondido. Pelo que se entendeu da entrevista, o ex-prefeito não nega que tenha deixado de honrar compromissos. O que lhe incomoda é o montante divulgado. Seriam números infinitamente menores. Por outro lado, aposta-se que o revide será nas contas do ex-prefeito que ainda serão votadas na Câmara Municipal. Este ano serão duas. O relatório está sendo preparado e a Câmara Municipal deve seguir o parecer do Tribunal de Contas que é pela rejeição das mesmas. Uma águia nesses assuntos diz que o problema dessas contas rejeitadas está em uma palavra: dolo. E nos dois relatórios constam. Se a Câmara afastar o dolo o ex-prefeito não fica inelegível. Isso é possível, com muita articulação. Porém, dificilmente os vereadores irão contra o parecer prévio do Tribunal que é pela rejeição. ************************************************** “Deus, grande Deus / Meu destino bem sei foi traçado pelos dedos teus” – Grande Deus (Cartola)

Crônicas e Fotos Bem Depois

Muitos vi de perto. De outros já não me lembro. Mas todos estiveram pelas ruas de Cachoeiro de Itapemirim à procura de alguém que captasse, com antena delicadíssima, suas histórias e formas de viver, e depois espalhasse crônicas que são verdadeiras fotos de suas vidas. Assim fez Wilson Márcio Depes em seu Fotocrônicas. É livro que não se lê com os olhos. Por isso, talvez, tenha demorado tanto para passar página por página, e parar em cada parágrafo, relembrando essas figuras doces e misteriosas que podiam ser vistas diariamente pelas ruas de Cachoeiro. Certamente por isso demorei décadas para ler e me emocionar. Aos poucos foram sumindo, todos eles, silenciosamente, como entre nossos dedos passam os anos de nossa breve vida. Dos personagens do belo livro do cronista cachoeirense, talvez Seu Zezinho seja o único que muitos conheçam ou ouviram falar. Os demais simplesmente desapareceram na poeira das ruas, anonimamente, mas não esquecidos.     Ler o Fotocrônicas foi me emocionar tanto pela lembrança de figuras lendárias do nosso cotidiano que já partiram, quanto por esse Cachoeiro que igualmente se vai, triste, pelo mesmo caminho de esquecimento. Nossa cidade está pobre e vazia de personagens. Nossas ruas passam por nós irreconhecíveis. E passamos por elas na esperança de ver alguém que relembre o que fomos. Não temos. Somos, no fundo, todos personagens que caberiam em um novo Fotocrônicas do escritor. Vagamos pelos bairros vazios do nosso glorioso passado, procurando o rumo que Cachoeiro perdeu. É uma cidade que aos poucos se vai anonimamente, como os personagens dos olhos do cronista. Não se fala aqui de dinheiro, de riqueza, mas de gente. Das mais simples às mais importantes. A Cachoeiro que tem os ricos de sempre está cada vez mais pobre. Não há dinheiro que pague a ausência de gente que respire sua cidade. Em uma das últimas vezes que estive com Marco Antonio Carvalho, biógrafo de Rubem Braga, no Mercado do Amarelo, já falávamos sobre a pobreza que se iniciava por aqui. Ao ler o Fotocrônicas hoje volta à memória essa conversa. Era uma conversa triste e ao mesmo tempo boa. Como cada rosto de cada personagem de Wilson Márcio Depes. O Fotocrônicas vale e valerá ser lido, agora ou muito tempo depois. Porque é um livro que fala de pessoas simples, mas sem as quais não se pode construir uma verdadeira cidade. *********************************************** “Tanta coisa eu tinha a dizer / Mas eu sumi na poeira das ruas” – Sinal Fechado (Paulinho da Viola)              

Ricardo Ferraço e o sonho que não envelhece

Vencer Ricardo Ferraço (MDB) nas eleições do ano que vem é vencer o conhecimento de um homem que viveu as grandes batalhas e os grandes momentos da política e da economia do Espírito Santo nesses últimos 30 anos. Não é, portanto, tarefa simples para quem quer ser governador do Estado. Na entrevista na Rádio Cultura, nesta semana, ao lado de Cesar Nemer, vi e ouvi um Ricardo preparado, e que disse com todas as letras que, no momento certo, vai colocar seu nome como candidato a governador porque tem desejo de governar o Espírito Santo. Não só desejo, mas, sobretudo,conhecimento, acrescento. Desde vereador em Cachoeiro, passando pela Assembleia Legislativa, Câmara de deputados e Senado Federal, o atual vice-governador constrói carreira sólida e vem acumulando experiências políticas e pessoais que fazem dele hoje um nome a ser batido no processo vindouro. Ricardo depende do governador Renato Casagrande (PSB) para efetivar seu sonho de governar. Depende de uma junção de forças para chegar mais longe, em uma engenharia que vem sendo trabalhada pelo líder maior do grupo, que só a faz porque entende que tem no seu vice um nome com capacidade de levar adiante tudo que vem sendo construído no Espírito Santo. Se o Espírito Santo é o Brasil que dá certo, Ricardo Ferraço é o político certo dentro de um grupo que se prepara para um enfrentamento eleitoral pesado em 2026. Sabedor disso, o governador robustece aquele que está pronto para o desafio maior. Os adversários sabem que vencer Ricardo é, ante de tudo, vencer um estado que está bombando, com índices sociais e econômicos que fazem inveja ao restante do território brasileiro. Não foi o vice-governador que fez isso, mas ele estava e está lá nessa construção coletiva que orgulha os capixabas. Vencê-lo, portanto, é superar um homem que conhece o Espírito Santo como a palma da sua mão e que tem diagnóstico completo dos nossos desafios, bem como a digital em nossas muitas vitórias. Está preparadíssimo para um projeto de continuidade que sacudiu e deu a volta por cima, transformando nosso estado nessa pérola de oportunidades e virtudes. Ricardo Ferraço (como diria Brizola) vem de longe, apesar de ser um jovem de 61 anos. Bebeu nas melhores águas da política capixaba. Mas, acima de tudo, adquiriu a virtude de saber esperar, pacientemente. Não gritou. Não esperneou. Não explodiu. Recolheu-se. Preparou-se. Fortaleceu-se. E está pronto. O voto é construído, e é preciso estar preparado para isso. Ricardo fala dos 78 municípios capixabas com a precisão e conhecimento de poucos. Sabe de suas vocações e deficiências, de números e nomes, de caminhos e descaminhos. Acumulou amizades e experiências administrativas que o capacitam. Como ele próprio diz: “quem quer chegar rápido, vai sozinho, mas quem que ir longe, vai junto”. Ricardo tem construído com muitas forças conjuntas a sua viagem longa, paciente, para chegar longe. E nunca existiu uma hora como agora.     Quem quiser derrotá-lo vai ter de derrotar um político extremamente preparado para governar o Espírito Santo. Não precisa nem comer um quilo de sal, mas, algumas barras de cereal, será necessário. Desde o abril sangrento, em 2010, o sonho de Ricardo Ferraço não envelheceu e nem envelhece. Está nele, vivo ainda. Quase maduro. Pronto para ser colhido pelos homens de boa vontade que estiverem juntos com aquele que está preparadíssimo para governar. Basta que o povo entenda e siga. ************************************************** “Por que se chamavam homens/ Também se chamavam sonhos/ E sonhos não envelhecem” – (Clube da esquina 2) – Marcio Borges/ Lô Borges/ Milton Nascimento      Foto de capa: site do MDB 

O sorriso discreto debaixo do bigode de Toninho Bitencourt

Toninho Bitencourt (Podemos) sem retrovisor. Sem olhar para trás. Foi isso que percebi na entrevista coletiva realizada pelo prefeito de Marataízes para falar dos seus primeiros 30 dias. Com um orçamento de R$ 420 milhões para trabalhar esse ano e com uma população aproximada de 42 mil, o prefeito vai poder dar sequencia na transformação que Marataízes tem vivido nos últimos anos… tranquilamente. Toninho não ficou a lamentar o que passou em relação ao governo anterior. Tanto que sequer tocou no nome do antecessor. Estava de bom humor, de bem com a vida, posso dizer. Quando diz que exite um déficit de R$ 150 milhões, não entendo como algo choroso, mas uma constatação. É preciso dizer, como disse, o que não significa choro em cima da mesa. Diz, necessariamente, e, em seguida, toca a bola para frente, como tocará inexoravelmente. Sua crítica mais contundente tratou-se da obra realizada na Lagoa do Meio. Sobre isso, ainda teremos cenas dos próximos capítulos a conferir. Foram palavras duras onde chegou a dizer categoricamente que “o colega de partido do governador” enganou o governador ao inaugurar uma obra mal feita. Só para registro: Tininho Batista, ex-prefeito, é do PSB, partido de Casagrande. Parou aí. Porém sua equipe não deixou de espetar o passado quando o assunto foi gestão. A secretária de Fazenda Valquíria Goulart lembrou que houve uma queda de arrecadação lá em 2023 e que teria faltado cuidado do quem estava no comando quando não efetuou cortes de gastos. O Tribunal de Contas recomendou e o ex-prefeito não fez. Porém, a própria secretária lembrou com otimismo que a atividade da nova plataforma Maria Quitéria somada à Jubarte darão bons frutos, e no mês de março se observará as melhoras de orçamento. E lá para junho as perspectivas de arrecadação dos royalties devem estabilizar os cofres. Em síntese, as palavras tranquilizadoras da secretária correspondem ao bom humor de Toninho. Um paralelo: quando saiu no último ano do seu último mandato, há 16 anos, o prefeito administrou com R$ 34 milhões. Nesse ano ele terá R$ 420 milhões. A população aumentou, a cidade cresceu, os problemas são outros, mas há dinheiro abundante para quem se intitula “bom gestor”. Logo, as expectativas são ótimas. Outro ponto a ser falado em relação a esse primeiro contato do prefeito com a imprensa: a demonstração de união de Toninho com sua equipe, com seu vice-prefeito William Duarte (MDB) e com o presidente da Câmara de Vereadores, Erimar Lesqueves (MDB). O prefeito não monopolizou a coletiva. Deixou jornalistas à vontade para falar e direcionar as perguntas a qualquer secretário. Ou seja, deu liberdade e autonomia para que cada qual fale por sua respectiva pasta.  Isso mostra confiança na equipe, e união política também. Parece coisa simples, mas nem sempre se vê por aí. O próprio espaço dado ao vice-prefeito, colocado o tempo todo como seu braço direito, já mostra um diferencial deste governo. Wilhiam não será figurativo. Será figura importante na gestão, proporcionalmente ao tamanho que igualmente teve na campanha que levou o prefeito ao poder. A presença do presidente da Câmara na mesa, bem ali na frente, demonstra também que o prefeito terá nos vereadores bons aliados. Erimar foi prestigiado. Não foi apresentado apenas como mais um na coletiva. Foi chamado para estar ao lado do prefeito, do vice e da secretária de Fazenda. Parece nada demais, mas para bons entendedores da política isso é um sinal relevante. Por fim, destaca-se o papel que o secretário de Administração João Batista terá no governo de Toninho. Ele, que foi crucial na campanha do prefeito, certamente também será no mandato. Estava na primeira fileira próximo ao prefeito e foi o único, além da secretária de Fazenda, a fazer uso do microfone, destacadamente. Para bons entendedores, são sinais perceptíveis. Por falar em percepção, poucos perceberam, mas bem debaixo do bigode de Toninho Bitencourt havia um sorriso discreto de felicidade, de quem sabe que será bem sucedido no mandato. Tem experiência administrativa, tem dinheiro, ambiente político favorável e, ao que parece, tem uma equipe unidade. A conferir se a felicidade se concretiza ao longo dos anos. Mas como a primeira impressão é a que fica, pode-se dizer que ela é boa. Ainda que discretamente, é um sorriso feliz de quem volta para cumprir o destino de um segundo mandato, interrompido numa reeleição mal sucedida há quase 20 anos. Na fotografia estão todos felizes, diria o maestro soberano Tom Jobim. E essa primeira impressão é a que fica. E ela é boa, como é boa a brisa mansa do mar de Marataízes.

Perfil conciliador leva Alexandre Maitan à presidência da Câmara de Cachoeiro

Experiente e conciliador, no seu quinto mandato consecutivo como vereador, Alexandre Maitan (União Brasil) foi eleito por unanimidade nesta quarta-feira (1) para presidir a Câmara Municipal de Cachoeiro de Itapemirim. O novo presidente contou com movimentação do grupo ferracista para ser eleito, mas apenas nos dias finais. A candidatura dele evoluiu pelas suas próprias qualidades políticas e também porque outras tentativas não foram bem sucedidas. Outros nomes tentaram, mas sucumbiram ao processo antes mesmo de adquirir força. Pode-se dizer que o governo acabou aderindo ao nome de Maitan porque viu um caminho já bem encaminhado entre os vereadores e aí entrou em campo para o xeque-mate. As movimentações foram feitas pelo vice-prefeito Juninho Corrêa (Novo) e pela secretária de Saúde Renata Fiório. Mas claro que não se imagina que isso tenha ocorrido sem o aval do prefeito Theodorico Ferraço (PP). Diante desse cenário, pode-se dizer que o prefeito Ferraço saiu vitorioso no seu primeiro teste junto aos vereadores, o que não significa necessariamente que terá vida fácil na Câmara porque sempre tem os insatisfeitos. Mas iniciou bem seu mandato no campo político. Mas a verdade verdadeira é que o perfil do vereador Maitan foi o seu grande trunfo para ser eleito. Sereno, pacificador, com longa experiência na Câmara, o novo presidente não tem adversários. Faz uma política limpa, pelo que se sabe. Construiu sua história vitoriosa em um trabalho persistente de busca pelo voto nas suas bases interioranas. Se um prefeito gosta de governabilidade, Maitan é esse nome e não vai colocar nenhuma casca de banana no caminho ferracista. Aliás, Ferraço e ele se reencontram depois de um longo tempo, já que compuseram chapa de prefeito e vice em 2008. O destino aproximou os dois novamente, cada qual no seu quadrado. No que depender do novo presidente, espera-se um mandato ferracista sem dificuldades maiores no que diz respeito aos trâmites internos das matérias de interesse governamental. Maitan será o presidente no biênio 25/26, tendo ao seu lado Coronel Fabrício (PL) como vice-presidente, Vitor Azevedo (Podemos) como primeiro secretário e Marcos Coelho (PSB) como segundo secretário. Ou seja, dois novatos também aparecem bem na fotografia inicial da nova composição legislativa. E Marcos, velho conhecido da política local, também ressurge na Mesa Diretora discretamente. Definitivamente, o ano começou em Cachoeiro. Vamos ver pra onde vamos.

Thiago Neves, o garoto prodígio do PSB

De 414 votos nas eleições de 2020, o garoto prodígio do PSB Thiago Neves triplicou sua votação nestas eleições, indo a 1276 votos e sendo um dos 19 vereadores eleitos em Cachoeiro. Mas não foi por acaso sua surpreendente ascensão eleitoral na segunda disputa, aos 30 anos. Thiago é tratado como joia rara do partido e por isso foi recebido semana passada no Palácio Anchieta pelo governador Renato Casagrande, liderança maior do seu partido no Espírito Santo. Falaram de política e de futuro. Aliás, ele é o mais novo entre os eleitos cachoeirenses. Ativista social, Neves é reconhecido internamente como acima da média quando o assunto é falar de política com os jovens de Cachoeiro, notadamente com os da periferia da cidade. Até antes da disputa eleitoral, ele atuava no CRJ (Centro de Referência das Juventudes) no bairro Rubem Braga, programa criado pelo Governo do Estado. Agora como vereador eleito, deve se tornar a voz ativa do PSB na Câmara ao lado dos outros dois vereadores do partido, mas com o diferencial de ser um membro raiz, característica que não se aplica aos colegas, já que eles passaram por outras siglas. Thiago Neves nasceu e se criou no PSB, o que não lhe faz melhor nem pior que os demais, mas trata-se de um diferencial que será levado em conta pelas fileiras da sigla nos seus posicionamentos dentro da Câmara de Vereadores. É para isso e por isso que teve ajuda substancial de gente forte e de representatividade do campo progressista. Alias, Thiago Neves é social democrata. Sua formação política e o ambiente em que se fortaleceu enquanto liderança jovem lhe mostraram que seus posicionamentos devem estar alinhados com pautas progressistas e sociais focadas principalmente na juventude dos bairros mais carentes de Cachoeiro. Cristão, genro de pastor, criado dentro da igreja, Thiago Neves deverá se policiar para dizer não ao radicalismo, exercendo a tolerância para ouvir os contrários e evitar caminhos enviesados que não constroem políticas públicas melhores aos que precisam. Vai precisar de orientação, mas sem se contaminar com possíveis desejos de outrem que poderão querer usá-lo para o lado ruim da política. Terá de saber discernir o joio do trigo como ensinou o rei dos reis. De Thiago Neves é esperado um comportamento político de independência em relação ao futuro prefeito, sem que com isso busque atrapalhar as boas práticas que possam sair do Palácio Bernardino Monteiro em direção ao povo. Porém, sem a submissão característica daquela Casa de Leis. Assim desejam seus eleitores. Vejamos.

Timá, uma lenda de votos e humildade em Presidente Kennedy

Ele é um líder nato, forjado entre as areias de Marobá, onde vive, e os campos agricultáveis de Presidente Kennedy. Conhece a história do seu povo como poucos e é em favor dele que frequenta a Câmara de Vereadores desde 2005. Quer conhecer Timá? É fácil. Pergunte aos cidadãos kennedenses. Eles sabem como ninguém sobre o filho de seu Cícero Batista, que também já foi vereador duas vezes na década de 70. Aliás, foi seguindo os passos do velho pai que adquiriu maturidade e força política para estar no mais alto degrau da prateleira dos grandes nomes da cidade. Vai para o seu sexto mandato, ininterruptamente, como se fosse o primeiro: com simplicidade e disposição para dar o seu melhor. A espetacular marca de 939 votos nesse último pleito de 6 de outubro merece análise aprofundada em nível nacional, porque proporcionalmente deve ter sido o vereador mais votado do Brasil: quase 9% dos votos válidos do município. Em Presidente Kennedy vai demorar para alguém superar esse recorde de votos e de humildade, porque seu Jacimar Marvila Batista já abandonou há tempos seu nome de registro para se tornar apenas o Timá do povo. Alcunha dada pelos seus eleitores de mais de duas décadas que confiam no seu trabalho e o tornaram imbatível nas urnas. Presidente de Câmara várias vezes, tem contribuído para a governabilidade do Executivo sem abdicar das responsabilidades públicas. Se sua cidade tem evoluído administrativamente, esse desenvolvimento social e econômico passa obrigatoriamente pelas mãos simples desse homem que é a cara do povo do seu lugar.   Timá tem olhos claros e profundos com os quais enxerga um futuro promissor para Presidente Kennedy. É o olhar de quem ama sua terra e trabalha por ela, como os lavradores do interior ou como os pescadores do seu litoral. Suas mãos de artesão político lapidam o futuro para os que virão depois dele. Está à frente do seu tempo guiando os mais humildes para caminhos tranquilos. Por isso sua longevidade política não é em vão. Quem o elege sabe que ele é digno da confiança sublime do voto. Não são só eleitores; são amigos de tempo e de lugar, de dificuldades e de esperanças. São anônimos que sonham os mesmos sonhos e por isso elegem Timá para representá-los no grande palco da vida pública. Lugar onde só lendas com votos e humildade conseguem suplantar marcas históricas como esta que ele alcançou agora. Não é por acaso que ele tem a palavra mar no seu nome. A grandiosidade das águas salgadas em movimento representa transformações e renascimento. Timá renasce a cada 4 anos das urnas com um poder ainda maior de transformar Presidente Kennedy em um lugar melhor. E dessa vez renasceu das mãos de 939 sonhadores que querem dias melhores. Que venham então! Serão dias claros como a cor dos olhos daquele que carrega o mar no seu nome.

Geninho e Léo Pintinho, rima que deu certo em Itapemirim

Uma eleição quando concluída é apenas a ponta de um iceberg. As bases são maiores, mais profundas e representam o verdadeiro sustentáculo de um processo que se encerrou no voto, mas que começou bem antes. Por isso o bastidor é bem mais fascinante para os que se dedicam ao observatório político. Há uns dois anos Leonardo Paiva (para os mais chegados, Léo Pintinho) esteve em Cachoeiro para me falar de um tal Geninho que se estruturava para ser candidato a prefeito em Itapemirim. Geninho? Perguntei. “Sim, Geninho!”, me respondeu confiante e passando a enumerar as qualidades do jovem, até então desconhecido não só por mim, mas por todo meio político do Espírito Santo. De político mesmo Geninho só tinha o sobrenome Bechara, e ter um sobrenome desse tamanho pode trazer aceitação e rejeição também. Talvez por isso lá atrás o Leó tenha percebido que era bom não explorá-lo e assim não o fez. Geninho inicialmente era só Geninho Alves… Geninho Dentista… e depois só Geninho. Agora Geninho Prefeito. O diminutivo dos nomes Geninho e Pintinho deram rima, e se tornaram grande naquele velho sentido real de que a união faz a força. E fez, a ponto de tornar o primeiro o prefeito eleito, e o segundo, o maior articulador político de Itapemirim no momento atual.   Geninho cresceu como homem público porque teve a humildade de enxergar no seu amigo e articulador Pintinho um nome que poderia abrir a ele as portas da política do Espírito Santo. Trabalhou e confiou, como sugere a bandeira do estado. E acreditou e um jovem que amadureceu muito desde 2013 para cá. Quem conheceu Léo em 2013, como eu, época em que entramos e estivemos juntos no Governo do Dr. Luciano, repara nele um amadurecimento político que só o tempo pode fornecer. O Léo afoito de então transformou-se em um político de bastidor moderado e equilibrado, que pensa antes para falar depois, e age de acordo com a sensatez necessária para levá-lo a construções maiores.  Construção como essa do dia 6 de outubro. Não fez sozinho, claro. Mas iniciou um processo de percepção que poucos de Itapemirim tiveram. Numa peneira futebolística, poderia se dizer que ele foi o cara capaz de enxergar entre tantos jovens um que poderia ser um craque no futuro. Garimpou o talento desconhecido ao nível de transformá-lo prefeito. Dentro do processo eleitoral houve descrédito e desconfiança. Não só por conta do pré-candidato desconhecido, mas em relação ao próprio Léo, que vinha de um processo político que deu errado 2013. Numa conversa de bastidor em que participei com ele e com um também pré-candidato a prefeito, ainda em 2023, saí com uma percepção clara do encontro e que explicitei a demais interessados: Léo amadureceu. E foi isso. Casou o amadurecimento de Léo Pintinho com o carisma político do jovem Geninho que agora os fazem entrar pela porta da frente da Prefeitura de Itapemirim. O prefeito eleito tem a chance de construir uma bela carreira política se aproveitar as oportunidades; e Léo Pintinho a chance de se reencontrar com a própria história iniciada em 2013 e retomada agora, bem pelo alto, onde tremula o pavilhão vermelho e preto do clube do seu coração. Nomes de peso da política de Itapemirim foram colocados no bolso por esse novo ciclo que atropelou adversários, e firmou hastes para um tempo novo, que esperamos que se consolide, terminando com um grande processo de instabilidade no qual o município vive.            

Ferraço não vai a debate, cria fato novo e põe sua eleição em risco

Não ir a debates definitivamente não é uma boa estratégia para quem quer se eleger. Ao contrário, pode ser um tiro no pé. E no caso do candidato Theodorico Ferraço (PP), vou além: pode ter sido um erro fatal, dada a circunstância em que está disputando esta eleição em Cachoeiro. A foto com o lugar dele vazio vai rodar esta semana e chegar no eleitorado. Para início, vamos à circunstância. Esta eleição está sendo atípica para Ferraço, que perto de fazer 87 anos já não consegue ir a todos os recantos de Cachoeiro. E essa dificuldade, que é normal pela idade em que está, tira ele das ruas, obrigando-o a fazer o que o atacante Romário gostava: jogar parado, e resolver o jogo em momentos cruciais. Então, se ausentar das oportunidades de “jogar parado”, me causa estranheza. Ao político que lidera a corrida eleitoral é dado o direito de se ausentar de debates que podem lhe desgastar. Aí compensam essas ausências com outras estratégias, tipo aumentar a presença nas ruas, explorar exaustivamente os programas de rádio e TV, e, agora, usar muito as tais redes sociais. E por fim, ir a um ou outro debate pontual, sem ser expor demais. Ferraço teve a chance de usar a tal “bala de prata” no debate de ontem, sábado (28), na TV Gazeta. Era a hora de mostrar para os adversários, e principalmente para os seus eleitores, que podem até acusá-lo de estar “doente do pé”, mas não poderão dizer que está “ruim da cabeça”. Ia provar isso jogando parado, e uma única vez. Não haverá mais debates. Era só aquele. O último e ele não foi. Perdeu chance de ouro, sem “bala de prata”. Resistindo aos ataques que sofreria com a esperteza que só as pessoas mais maduras podem ter, Ferraço sairia maior do que está. Provaria que pode sim ser prefeito de novo, porque ainda tem lenha para queimar, apesar do peso do tempo. Mas quando não vai a um debate tão importante, levanta contra si as dúvidas naturais da população. Algumas delas podem ser:  A –  Não foi porque está usando o salto alto do já ganhou? B – Tem pouco apreço à democracia? C – As ideias para melhorar Cachoeiro são frágeis e inconsistentes, por isso foi incapaz de defendê-las publicamente? D – Tem condições de defendê-las publicamente? Nesta eleição, não pesa contra Ferraço o fator idade, pouco explorado pelos seus adversários. O que mais criticam no candidato é o fato de que ele teria ideias velhas para problemas novos, e que seu estilo de governar não resistiria ao emaranhado de exigências do sistema administrativo que hoje se aplica no serviço público. Em suma, estaria ultrapassado. Enfim, são retóricas políticas de adversários, cuja realidade só poderá ser comprovada caso ele realmente exerça o poder. E é exatamente por isso que me estranha muito a ausência de Ferraço no debate, porque ali estaria a chance dele provar o contrário, defendendo as ideias do seu modelo gestor. Certa feita o lendário Ulisses Guimarães teria sido chamado de velho pelo então candidato Fernando Collor de Melo. De bate pronto o emedebista respondeu: “Sou velho, mas não veiaco. Morreu aos 76 anos honrando a sua história na política brasileira. Ferraço, dez anos mais velho, também honra sua história na política do Espírito Santo. Mas quando falta a um debate e deixa de falar ao povo aquilo que realmente pensa sobre os problemas de Cachoeiro e como irá resolvê-los, deixa desnecessariamente a dúvida cruel se realmente será capaz de resolvê-los. Parodiando Ulisses, poderia dizer “estou velho, mas estou pronto para servir Cachoeiro”. Não disse, na sua melhor chance de dizer. Embora os ferracistas e uma meia dúzia de poderosos de Cachoeiro teimem em dizer que a eleição acabou, ainda faltam 7 dias, a partir deste domingo (29). Ironicamente, a participação de Ferraço no debate, que seria a “bala de prata” mortal contra seus adversários, não aconteceu, e torna-se agora o fato novo desta eleição, podendo mudar o rumo daquilo que era para estar praticamente consolidado na manhã deste domingo. Estratégia ousada, resultado imprognosticável.  Ao não debater os problemas de Cachoeiro contra seus adversários, Ferraço turbina a campanha dos seus concorrentes e bota sua eleição em risco. Em uma semana saberemos se deu certo. Por hora, melhor não cantar vitória. *************************************************** “Não cante vitória muito cedo, não/ Nem leve flores para a cova do inimigo/ Que as lágrimas do jovem são fortes como um segredo/ Podem fazer renascer um mal antigo” –  Não Leve Flores (Belchior)                 

Polarização, o terror de Ferraço nas urnas

O grande terror do candidato Theodorico Ferraço (PP) nas urnas chama-se migração de votos que advém da polarização. Em Cachoeiro, esse fenômeno eleitoral foi decisivo em 2008 para que Carlos Casteglione (PT) se tornasse prefeito com incríveis 49.698 votos. Naquele pleito, Casteglione sepultou politicamente dois grandes gigantes cachoeirenses: Roberto Valadão, que já partiu para o andar de cima, e o mesmo Ferraço de agora. A diferença do vencedor para o segundo foi em torno de 7 mil votos, mas só aconteceu na reta final. Deu-se da seguinte forma. Desgastado no poder, o então prefeito Valadão partiu em busca da reeleição, mas debilitado politicamente. Lutou, como era do seu costume, mas viu, nos dias finais daquela disputa, seus votos, que já eram poucos, migrarem para o petista. Era o que faltava para a virada histórica. De apoio de lideranças , Casteglione tinha apenas o senador Magno Malta (PL) naquele ano. Ele foi importante, mas não decisivo. Pesaram dois fenômenos: a volatilidade da base política de Valadão, ancorada no velho conceito de um governo de coalizão; e o medo dos servidores públicos municipais de terem Ferraço novamente no poder. Nas últimas semanas, tanto a base frágil valadonista, formada por PV, PTB, PRP, PT do B, PTN e PSDC, quanto os servidores, que apesar dos pesares tinham uma relação razoável com então prefeito, lhe deixaram de lado e votaram em Casteglione. Agora, em 2024, Ferraço lidera a disputa, segundo pesquisas confiáveis ou não. O governo Victor Coelho (PSB) tem uma candidata, Lorena Vasques (PSB), que, segundo esses mesmos números divulgados, patina na intenção de votos. Sobram Diego Libardi (Republicanos), Léo Camargo (PL) e o mesmo Carlos Casteglione (PT).  Quem se aproximar do líder pode se beneficiar do fenômeno que ajudou o petista lá atrás. Desses, o único que talvez não consiga isso é exatamente o beneficiado de 2008, por conta da alta rejeição atual. Os outros dois têm mais chances. Nenhuma eleição é igual a outra, mas uma boa estratégia para quem polarizar com Ferraço é pregar o chamado voto útil, fazendo a tão temida migração de votos dos demais candidatos para si. Historicamente os ferracistas não têm o voto do servidor efetivo, cerca de 2500. E partidos, que hoje apoiam este ou aquele candidato, tendem a seguir quem pode ganhar a eleição, sonhando com o tal governo de coalizão. A tradição ferracista é governar sem dividir poder, o que pode dificultar uma possível aglutinação partidária. Portanto, a polarização é fenômeno temido por Ferraço. Porque a tal migração de votos, muito comum em cidades que têm segundo turno, em Cachoeiro acontece já no primeiro turno. E curiosamente ocorre em desfavor de quem lidera, pois o fôlego vai se definhando ao longo do processo, enquanto quem se aproxima ganha ímpeto, alimentado pela esperança de uma virada na reta final. Cabe ao líder, neste caso Ferraço, criar antídoto à migração, que já lhe foi fatal e pode se repetir. Aos demais pretendentes ao cargo de prefeito de Cachoeiro cabem buscar a polarização. Quem antes fizer, mais cedo poderá beber das benesses dela. ***************************************************** “A rosa não se compara/ a essa judia rara/ criada no meu país” – Judia Rara (Jorge Faraj/Moreira da Silva)

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